domingo, 22 de agosto de 2010

PARABÉNS PROFESSORA!!!!



Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que geram este panorama desalentador.
Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.
Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital? Em que pais de famílias oriundas da pobreza trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.
Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.
Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”. Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.
Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.
Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores? E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria.. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.
Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.
E, mesmo assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores “incapazes”, elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração;
Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40 h.semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário.
Há de se pensar, então, que são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão se aposentando e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que se esforcem em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”pu**”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave.
Temos notícias, dia-a-dia, até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.

Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite. E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.
Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é porque há disciplina.E é isso que precisamos e não de cronômetros. Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se. Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais,quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade. Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade! E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!
Passou da hora de todos abrirem os olhos e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores até agora não responderam a todas as acusações de serem despreparados e “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.

Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.

** Carta de uma professora(desconheço o nome, mas poderia ser eu, você e tantos milhares de professores brasileiros)... em resposta à Revista VEJA.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Temple Grandin - O Mundo necessita de todos os tipos de mentes


http://www.ted.com/talks/lang/por_br/temple_grandin_the_world_needs_all_kinds_of_minds.html



Temple Grandin, diagnosticada com autismo na infância, fala sobre como a sua mente funciona -- compartilhando a sua habilidade de "pensar em imagens", que a ajuda a resolver problemas que cérebros neurotípicos não conseguiriam. Ela traz à tona que o mundo precisa de pessoas com o espectro autista: pensadores visuais, pensadores em padrões, pensadores verbais e todos os tipos de crianças espertas e inteligentes.


Assista ao filme...UMA AULA SOBRE SUPERAÇÃO E UM ALERTA AOS NOSSOS PROFESSORES


Sinopse: Como o título adianta, o longa mostra a vida Temple Grandin, a qual conseguiu superar as dificuldades impostas pelo seu autismo (como pensar em ‘imagens’ e conectá-las) até tornar-se especialista altamente reconhecida no manejo de animais para o abate, além de responsável pelo avanço nos estudos relativos à sua condição. A história acompanha desde o período no qual estava prestes a ir para a universidade (no qual conhece a sua tia Anne e o professor Carlock, duas figuras importantes em sua trajetória) até o reconhecimento nacional de seu trabalho. O roteiro de Christopher Monger e Merritt Johnson (baseado nos livros de Grandin) também chama a atenção ao mostrar a peculiar relação com sua mãe, aqui vivida por Julia Ormond em performance discreta e eficiente.

Temple Grandin superando o AUTISMO

terça-feira, 3 de agosto de 2010

"A INTERNET ESTÁ DEIXANDO VOCÊ BURRO?"

Lendo a revista Galileu(agosto) cuja reportagem de capa"A INTERNET ESTÁ DEIXANDO VOCÊ BURRO?" selecionei um tópico para incitar uma provável discussão. Na clínica psicopedagógica, onde trabalho com crianças e adolescentes, o uso( ou mau uso) da internet está sendo apontada ( via queixas de pais , professores...) como um "dificultador da aprendizagem".
Atualmente... Quem é o aprendente?? Quem é o ensinante?

* Parte da reportagem que fala da multitarefa que caracteriza uma grande parte dos nossos alunos...


"A sobrevivência multitarefa em um contexto diferenciado pode estar criando um outro tipo de inteligência, argumenta Dornelles. Exemplo desse novo tempo é Gustavo Jreige, gerente de criação da empresa de comunicação Polvora!, em São Paulo. Aos 13 anos, ele ficava 15 horas por dia no computador. Hoje, aos 21, passa o tempo todo conectado e acredita que não conseguiria viver sem ser multitarefa. Assim como o músico Igor, ele também sente revezes na memória, mas não se incomoda com isso: “Para que eu preciso lembrar de certas coisas se posso fazer uma pesquisa e encontrar muito mais do que eu supostamente já deveria saber?. Gustavo sintetiza a forma de pensar da geração que está conectada desde a infância. “Já não é o que você sabe que conta, é o que você pode aprender. No mundo de hoje, o mais importante é ter habilidade para processar a informação na velocidade da luz”, diz o executivo Don Tapscott, autor do livro Wikinomics (...) O canadense liderou uma pesquisa de US$ 4 milhões que analisou, em 2008, os hábitos de 11 mil pessoas entre 11 e 30 anos, grupo que ele convencionou chamar de “geração net”.

Tapscott afirma que a web está fazendo com que essa geração seja a mais inteligente de todas, baseado em testes que mostram aumento de quociente de inteligência (QI). No entanto, a média de QI das pessoas cresce em ritmo estável desde antes da Segunda Guerra. Ou seja, não é o efeito da propagação da internet que está causando isso. Essa nova inteligência se mostra de outras formas, como prova Gustavo. Em 2006, então com 17 anos, ele reuniu jovens do Brasil pela internet para entrevistar candidatos à eleição presidencial. Aos 18, escrevia reportagens de tecnologia no jornal O Estado de S. Paulo. “No dia a dia eu lido com mais de dez clientes e projetos diferentes. Não preciso estar 100% focado em alguma coisa para conseguir dar conta dela.”

O prêmio Nobel de Medicina Eric Kandel diz que há, sim, risco de que uma mudança de comportamento em direção à multitarefa possa trazer consequências ruins aos nossos cérebros. Entretanto, ele vê mais motivos para sermos otimistas frente à revolução digital. “É incrível que crianças pobres que não têm acesso a bibliotecas e a livros estejam mais perto disso tudo com a internet. Eu posso conseguir referências imediatas a qualquer artigo de jornal nos últimos 20 anos e a livros em poucos segundos”, diz.

E quanto a não guardar mais tantas informações e deixar o Google se transformar em nossa memória, não se trata de algo perigoso? Kandel filosofa: “Quem disse que a memória é tão maravilhosa se você não tem nenhum uso para ela? Não é a memória em si que é tão bonita. É a recitação dela, a sensualidade, o prazer em revisitá-la”.

A diferença entre a internet e a leitura de um livro tradicional, segundo Nicholas Carr:
O livro impresso e a internet são o que chamo de "ferramentas da mente" mas seria difícil de imaginar duas ferramentas mais diferentes. Como tecnologia, um livro foca nossa atenção, nos isola das várias distrações que enchem nossas vidas diárias. Um computador conectado faz o oposto. É desenhado para dispersar nossa atenção. Ele não protege a gente das distrações do ambiente; se une a elas. Ao passo em que nos movemos do mundo da página para o mundo da tela, nós estamos treinando nosso cérebro para ser rápido, mas superficial.


Agradeço se postarem seus comentários.


Fonte: Revista Galileu